Resistir aos erros pós-conciliares é o mesmo que Protestantismo?
"Resolutamente otimista em relação aos adversários da Igreja, ele [o católico liberal] é cruel contra os católicos antiliberais e lhes manifesta um sólido rancor; considera-os, além disso, como trapaceiros de espírito estreito, os mais perigosos inimigos da Igreja."
- Catolicismo e Liberalismo
No dia 28 de outubro de 2025, o Leão Católico completa 5 anos. Em comemoração, eu resolvi publicar este esboço, que é fruto de minhas pesquisas a respeito da heresia protestante, e que foi motivado pela necessidade de desfazer a injusta e desrespeitosa (para dizer o mínimo) comparação da resistência aos erros do Modernismo que inundou a Santa Igreja, com Protestantismo, heresia destruidora da ordem social católica e, sobretudo, destruidora de almas.
Que Deus nos ajude!
Introdução
Determinados argumentos são especialmente autoacusativos. Porque ao utilizá-los, o indivíduo demonstra não saber do que está falando, deixando sua ignorância às vistas de todos. É o que acontece quando se compara a justa resistência ao Modernismo pós-conciliar com Protestantismo. No presente texto, eu me esforço por desfazer esse sofisma muito comum no meio católico-liberal.
Aqui se trata de uma discussão Intra Muros, não me proponho a refutar o Protestantismo, deixo essa tarefa aos sacerdotes e teólogos. Meu compromisso é apenas com a distinção entre uma coisa e outra, porque não suporto a injustiça de ver a obra da Tradição ser difamada por católicos que, conscientemente ou não, favorecem a Revolução dentro da Igreja.
O primeiro passo será apresentar o que é o Protestantismo, seus princípios fundamentais e suas consequências práticas. Depois, apresentar o que é a justa resistência aos erros do Modernismo, e o quão longe ela está de qualquer forma de Protestantismo. Por fim, explicar filosoficamente a estrutura lógica da falácia, refutando-na de uma vez por todas.
Protestantismo
O Protestantismo está fundado nas 5 Solas de Lutero e nos 5 pontos de Calvino, segue:
5 Solas de Lutero
- Sola Scriptura (e livre-exame): A interpretação das Escrituras fica a cargo da subjetividade individual e não mais do Magistério Infalível da Igreja;
- Sola Fidei: Justificação somente pela fé, uma fé subjetiva que não se traduz em obras, o que contradiz a Escritura;
- Sola Gratia: A salvação somente pela graça, negando a colaboração do homem com a mesma;
- Solus Christus: Negação da intercessão dos Santos e da Virgem;
- Soli Deo Gloria: Uma extensão do anterior.
5 Pontos de Calvino
- Depravação total: O pecado corrompeu todas as faculdades humanas, sendo este incapaz de buscar a Deus por si só;
- Eleição incondicional: Deus escolhe todos os salvos e condenados independentemente de suas ações;
- Expiação limitada: Jesus morreu pelos eleitos, e não por toda a humanidade;
- Graça irresistível: Os eleitos não podem resistir a graça;
- Perseverança dos santos: Os eleitos não podem perder a salvação.
Além disso, vale acrescentar outros princípios comuns no Protestantismo:
- O sacerdócio universal dos fiéis;
- A negação da autoridade papal (Não resistência a alguns pontos, mas a negação da própria ideia de Papa);
- Negação dos sacramentos (à exceção do batismo e da "ceia");
- Negação da Presença Real (Consubstanciação vs Transubstanciação)
- Negação do batismo de crianças (algumas seitas);
- Abolição do celibato clerical;
Eu começaria perguntando qual dessas doutrinas é defendida por qualquer um dos sacerdotes e fiéis católicos que seguem a Tradição pré-conciliar. Quais sacramentos eles negam, qual das 5 Solas eles pregam, quando eles negaram que o Bispo de Roma é o legítimo detentor das chaves; quando se apartaram da Igreja e deixaram de se chamar católicos romanos? Quando pregaram a graça irresistível ou a eleição incondicional? Quando eles negaram a intercessão dos Santos e da Virgem? Quando eles pregaram o sacerdócio universal dos fiéis ou o celibato clerical?
Vale lembrar que o Protestantismo representou toda uma mudança na cosmovisão da sociedade ocidental, que levou gradualmente à perda da fé e ao laicismo que testemunhamos hoje. Ao não mais reconhecer a autoridade da Igreja e se afundar no relativismo, a sociedade foi seguindo seus próprios rumos, de desordem, de apego às paixões, de ateísmo. Surgiram as ideologias, o liberalismo, a democracia, o humanismo, o materialismo, o capitalismo, o comunismo e tantas outras mazelas.
Essa ruptura com a antiga ordem, que levou todos à completa desordem e ao amor próprio, foi consequência justamente do Protestantismo. E qual a consequência da resistência católica à avalanche modernista pós-Vaticano II? Moços e moças vestindo-se e comportando-se modestamente, pessoas tendo a devida reverência dentro da casa de Deus, e de seus deveres de estado na sua vida comum, fiéis rezando mais, tendo maior noção da responsabilidade que é ser católico, casais recuperando os valores do Matrimônio e da prole, em detrimento do divórcio e dos anticoncepcionais. Seminários, mosteiros e conventos lotados de vocações. A consequência da resistência ao CVII é, em suma, a manutenção do catolicismo, o oposto do que foi e do que é o Protestantismo.
Que ordem social católica estão tentando derrubar os fiéis e sacerdotes tradicionais? São precisamente estes que estão mantendo alguma fagulha de catolicismo em meio ao século XXI.
A justa resistência
O católico tradicional é como um filho que recebe uma ordem do pai para cometer pecado porque ele precisa "virar homem", o pai tenta usar sua autoridade como justificativa, mas o filho sabe que deve obediência primeiro a Deus, e que qualquer autoridade na terra está submetida e pressupõe a comunhão com a autoridade de Deus. Do mesmo modo, um filho cuja mãe proíbe de frequentar a Santa Missa, deve praticar a desobediência à autoridade terrena em nome da autoridade maior que é a de Deus. Entendemos aqui, que uma ordem má nunca deve ser obedecida com o pretexto de obediência a uma autoridade, pois a autoridade primeira é a de Deus.
A resistência católica a certas ordens vindas de Roma nunca significou uma negação da autoridade papal em si, mas uma defesa da integridade da Fé e da Tradição, que o próprio Papa está obrigado a custodiar. Essa distinção é crucial para entender por que grupos como a FSSPX não são rebeldes, mas sim fiéis à verdadeira natureza do papado.
As doutrinas liberais que inundaram a Igreja são evidentes a qualquer um que tenha a boa vontade de estudá-las e reconhecer sua presença.
E isso leva a problemas graves que justificam uma santa resistência, pois desfiguram a própria identidade católica e enfraquecem a sua missão sobrenatural. Para citar alguns: a reforma litúrgica, o falso ecumenismo, a liberdade religiosa, a utilização de discurso ambíguo, etc.
Resistir ao Modernismo é amar a Igreja Católica Apostólica Romana, o oposto da heresia protestante.
Além de tudo, a própria autoridade do Magistério deixou de ser exercida, substituída por um relativismo que não mais ensina, mas sim dialoga.
Estrutura lógica da falácia
Depois de entendermos o que é Protestantismo e o que é a justa resistência, estamos prontos para entender o cerne da questão: A estrutura lógica da falácia.
Falsa equivalência por analogia superficial
A comparação entre tradicionalismo e protestantismo erra em dois níveis: Tanto por ser uma equivalência por analogia, quanto por ser uma falsa analogia.
A equivalência por analogia é um erro lógico que ocorre quando dois elementos são equiparados com base em características secundárias ou acidentais, ignorando diferenças essenciais. É como dizer que cachorro e gato são o mesmo bicho, porque ambos têm quatro patas.
No caso da comparação entre tradicionalismo e protestantismo, a falácia (dupla) se estrutura assim:
Tradicionalistas e protestantes desobedecem a Roma
Logo, tradicionalismo = protestantismo
Por que isso é uma falácia? Porque ignora diferenças essenciais:
- O Protestantismo nega dogmas, nega a própria autoridade da Igreja; o tradicionalismo afirma todos os dogmas da Santa Igreja, e reconhece a autoridade do Bispo de Roma.
- O Protestantismo funda uma nova religião; o tradicionalismo se mantém fiel ao catolicismo de dois mil anos.
- O Protestantismo rompe com a Igreja, saindo dela; o tradicionalismo se mantém dentro da Igreja;
- O Protestantismo rejeitou a Tradição da Igreja; o tradicionalismo defende a essa Tradição;
- O Protestantismo desobedece por negar a autoridade; o tradicionalismo desobedece porque a autoridade defende o erro.
Tipos de falácias envolvidas
1. Falsa analogia
Comparar dois termos com base em um traço comum irrelevante (desobediência), ignorando contextos radicalmente distintos;
2. Reducionismo
Reduzir realidades complexas com base em uma única característica (ambos "desobedecem" Roma). Ignorando que, na essência, o Protestantismo promove uma revolução teológica e social, com novas doutrinas; enquanto o tradicionalismo não inventa nada e permanece fiel ao que a Igreja sempre fez.
3. Non Sequitor
A conclusão não se segue da premissa.
Armadilha da generalização
A falácia surge quando:
- Isola-se um aspecto superficial
- Ignora-se o propósito e o contexto
Conclusão
Aprofundando-se no conhecimento do que é a heresia protestante, seu contexto histórico, suas motivações, suas consequências, e colocando lado a lado com o tradicionalismo, fica claro que não há qualquer semelhança entre as duas coisas, já que os ditos reformadores fundaram uma nova fé, enquanto os católicos tradicionais mantém a Fé de sempre da Santa Igreja Católica.
Assim sendo, a acusação de que são fenômenos equivalentes revela-se como uma armadilha sofista, não embasada na lógica, mas no rancor ideológico. É mais um jogo retórico de quem não buscam os fatos, e sim vencer um debate pela difamação e pelo reducionismo.
Permanecendo na ignorância, facilmente se cai em comparações superficiais que não se preocupam com as essências e que desejam perpetuar os erros e as mentiras, e que não sobrevivem a uma análise mais séria e atenta, como a que fizemos hoje.
Fiquem com Deus!
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